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Estandarte de um amigo.

Lembro-me daquele dia em que pude te receber em casa. E que em meio a risadas e falsas lamentações (pois por dentro o coração palpitava de alegria em mútuo reconhecimento e compreensão). Lembro-me daquele dia que pude te fitar com olhos esperançosos. Lembro-me da minha promessa silenciosa de não te decepcionar. Aquele abraço apertado e aquele tapa nas costas. Aquele “até” tão monossilábico e tão polissilábico em sua essência.  Eu vou como um menino e volto como um homem. As guerras que lutarei todas levarão junto teu estandarte. Devo partir.

Hoje, em meu quarto, acendo uma vela branca. Símbolo da pureza. Nas chamas dela e ajoelhado, como costumávamos fazer lado a lado, repito a mim minha promessa, me convencendo de minha estrada. Eu vivi. Eu fui eu. Eu fui você. Eu vivi muitas outras vidas. Mas esta chama, a paz me traz. A paz de uma chama que tremula e acalentadora que ao meu redor faz a escuridão dessa vez  me fitar. Fita-me não com olhos esperançosos, mas com olhos severos a garantir que nunca vou esvaecer em minha caminhada. Por mim e por você.

Sinto falta de seus conselhos. De sua mão tão pesarosa em meus ombros e de tua palavra que, às vezes severa, mas cheia de fé. A fé que nem eu, devoto de mim mesmo, um dia pude conseguir. São tantas lembranças que às vezes me permito não recordar, muito menos falar. São tantos deveres que às vezes prefiro não me cobrar, mas correr. Correr atrás de toda aquela promessa mútua e silenciosa que uma troca de olhares amigos jogou ao vento.

A chama se apaga. Devo levantar.  Sobre o joelho direito, meu único apoio levanto. Com o meu, o teu estandarte em riste para que ao sair da escuridão, possa eu lutar as guerras silenciosas, assim como a promessa que um dia sem palavras te entoei.

A vós dedico.

Sem título 8

Da grama faço berço. Olhando um céu que nem as estrelas quiseram habitar. Tão vazio quanto qualquer sentimento que eu pudesse ter nesse momento. A fumaça de meu cigarro faz miscelânea com o nublado cortejo de nuvens que escodem a lua, esta que seria única fonte de luz que poderia me salvar da escuridão, tanto física quanto de meus pensamentos.

O fundo do meu copo de whisky é como uma bola de cristal de efeito reverso – visando o passado. Seu rosto alegre sorri pra mim como uma doce criança. Todo sorriso que quis ver a cada minuto em que pensava em você. Todo o dia me culpa a certeza de ter feito desse sorriso uma súbita lembrança que agora se esvai em meio ao meu momento de vício e fraqueza. Na última gota rala de álcool seus olhos verdes me olham tristes, uma tristeza que sei que minha maldição de ter você e meu passado e presente incerto me tiraram. Saber que todo mundo tem piedade do sonho de todos. Todo mundo tenta se redimir. Mas eu não. Eu mereci isso.

Que vá ser livre, que vá viver. Que seu sorriso continue. Que sua boca ainda exale doces palavras. Que seu perfume se misture a primavera e que seu calor salve alguém no frio. Mas que meu pensamento voe até você com a suave brisa. Que você saiba que ainda estou aqui, mesmo sabendo que você não virá como um súbito anjo como foi naquele dia que precisei de você. Mesmo sabendo, que você não vai aparecer em noites como essa pra me trazer a luz. Mesmo sabendo que você se vai, lentamente…

Nas espirais do meu cigarro.

Sem título 7

Lúcido momento em que quis te contar
Tudo que um dia deixei passar
E que me engasgo a todo momento
Em um vento suave resolvo
De hoje não passa de novo
E agora estou escrevendo.

Troquei tudo que tenho por ti
E por futilidade te perdi
Mas sei que tudo se repetia.
Somos tão frágeis quando o sol nasce
Não podemos temer que a vida passe
E sim bailar em sua melodia.

Hoje só queria te dizer
O quanto é ruim não se aquecer
Entre tuas úmidas e belas coxas

E que por mais que force
Meu corpo sempre se contorce
Em dizer segredos que te deixam roxa

De observar sua face se regozijando
No mais puro prazer se entregando
Em uma noite que não tem fim
Aquece, suspira e geme
E como quem nada teme
Que caia a chuva em mim.

De ter certeza que quando tudo terminar
E quando minha pele teu suor brotar
Ainda terei sincero amor.
Na mais pura ternura
Sem qualquer paúra
De não temer mais dor.

Hoje só queria te dizer
Pedir que possa me acolher
Deitado em sua cama

E que por mais que eu force
Sou eu quem ainda torce
Por quem ainda ama.

Odalisca

Sob a luz do sol de um dia medíocre; Daqueles que sabemos que tudo acabará bem (ou pelo menos queremos acreditar nisso), uma imagem toma a minha mente enquanto a brisa toma meu resto que há muito já não é tão delicado quanto você insistia em dizer.

Uma infinita lembrança é o único motivo que me tira o prazer do meu dia de hoje, de não ser medíocre tanto quanto gostaria que fosse. Tua face me toma de ímpeto e num turbilhão de sentimentos me engasgam em palavras que sequer foram pensadas. Sei que você precisou ir embora naquele dia ensolarado de verão. Sim, ensolarado, pois me tiraram até mesmo a alegria de uma cena chuvosa do mais clichê filme de amor. Seu rosto frio era imutável, mas teus olhos me disseram todas as juras que jamais alguém escutará. Num ato de misericórdia desvio o olhar para não me perder. Permito-me calar, para que de minha boca nada que e atingisse fosse proferido. Mas, mesmo assim, permito-me um último e desesperador toque de lábios.

Devaneios desse toque me lembraram teu sorriso ao me acordar. O toque de tua pele enquanto entrelaçados estávamos no mais pleno berço de ternura. Naquele momento, o mundo parava e enfrentávamos o destino face a face. Meu corpo respondia aquela tua valsa triste e melancólica de despedida. Me sentindo amado pela noite me entreguei, deixando parte de meu corpo e de minha alma para que você então continuasse na mais cruel das despedidas. Me entreguei.

Vá com a sorte, odalisca. Valse tristemente e não se esqueça nunca mais do belo soneto que compusemos juntos para acompanhar as tuas danças, enfrentando teu destino.

Sem Título 6

Sentado olhando a folha de papel. Em vez de imaginar uma tela com infinitas possibilidades, só vejo uma claustrofobia enjaulada em um quadrado branco. De inúteis rabiscos e rascunhos sem sentido saem palavras de ódio e amor, a linha tênue que nem o mais corajoso dos hercúleos ousa propositalmente atravessar.

Me paro fitando as estrelas da janela e a brisa fúnebre que parece vir a me acalentar. Na minha cabeça, nenhum pensamento importante, ou assim prefiro acreditar.
Me repreendo por lembrar de seu rosto e me odeio por lembrar de seu corpo. Me sinto inútil, amordaçado e dilacerado em minhas entranhas com a sua lembrança. Não sou tão forte para lutar contra isso.

Talvez nunca fui forte, talvez só precisava ser e agora que te vejo distante volto a fraqueza de quem espera um grande amor e não precisa mais fingir. É um vendaval. É a varanda. É a lembrança é a paixão.
Não seguro mais em minhas mãos o calor de outrora, proporcionado pela sua delicada fonte de amor.

Lembro de tudo e… Não! Devo parar! E será possível parar no olho do tornado? Será possível recolher os restos da tormenta mais sombria de meu ser?

E na guerra de sua ausência, perco mais uma batalha. E na guerra do meu ser, perco a vida. Ausência sentida.

Uma Aurora de Saudade

Deu o tempo de alegria
Como o sol que quase não vinha
Conhecer-te tudo ao seu lado
E de tudo que sentia
Nada mais me prendia
Nunca mais amado.

Que em vento se vai a flor
Leva pétala, some odor
Vento do sul ao norte
Deixa tristeza
Deixa incerteza
Rouba toda sorte.

Vivo a te amar
Ou amo-te pois existo?
Persisto a desvendar
Motivo que tanto resisto
Deixo enfim se apossar
Leva-me ao teu mundo
Carinho circundo
Vida renovada.

Decido, levanto
Anjo que sana meu pranto
Permanecerás sempre comigo?
Cura meu sangramento
Tira meu sofrimento
Vê-me mais que amigo?

Sussurre e deixe o vento levar
Tenha pressa, mas me ame devagar
Que só existe em você a saudade.
Pois ora inimigo do tempo
Rezo para ter acalento
No fim de toda ansiedade.

E novamente te procuro
Em cada gosto, cada cheiro
Desisto, deito no escuro
Lembranças de fevereiro
Pois meu amor eu juro
Nunca haverá algo tão certeiro
Que rouba meu pensamento
Que me traz sentimento
Quanto o nosso amor.

Apaga lua que já vem sol
Saudoso arrebol
Que traz de volta felicidade.

Mário Coppini”

Sem título 3

É duro tentar ser eu
Quando o ápice do vocabulário
De nada serve se não calcário
A calçar um coração já teu.
Este que aparece adoentado
Esperando, machucado
Por quem ele se deu.

E de tortura em tortura vai indo
Cortado, esfumaçado, sumindo
Como quem pede teu carinho.
Espera, aguarda, preocupado
Permitindo te dar o fardo
De cuidar de algo sozinho.

Sim, de todo imperfeito mantenho
Ainda assim te espreitando
Querendo, sentindo, desejando
Com todo possível empenho.
Esperando ser o bastante
Quando em nada o futuro garante
E mesmo com incerteza venho.

E novamente em versos jogados me expresso
Esperando ser de todo inverso
A tudo que hoje me faz sofrer.
Pois quanto mais sofro por amor
Quanto mais se aperta a dor
Mais aprendo a te querer.

E por mais um dia sem te sentir ao lado
Sendo ainda rascunho de namorado
Vendo tudo que antes via.
Que por mais que lagrimas escorram
Por mais que vícios morram
Quero encher-te em alegria.

E apesar de missão mal sucedida
Não há oração mais pedida
Que a de receber alguma palavra.
E por mais que não me sinta bem
Que por vezes sinta-me refém
estas ardem como brasa…

E espero um dia ter certeza
De quem em maior escuridão
Quando só contemple solidão
Possa ver tua beleza.
E que quando a fumaça sair do meu ser
E que quando a vida acabar sem poder ver
Que sinta apenas leveza.

E assim o desejo de ser a ultima se alcança
E que possa ser eu apenas lembrança
De tudo que eu sou.
E que ao perder na ida
Tudo que cultivei em vida
Que lembre de quem verdadeiramente te amou.

Mário Coppini”

Desabafo a Filotes

E como um vento veio…  Como um vento vai. Um vento que veio ao bater da borboleta vai como um perigoso furacão. Pura teoria do Caos. E ao pensar que achava alguém pra correr ao lado para o resto da vida, tropeçou aos primeiros passos… E ao contrário da maioria das vezes  não estou dizendo nada mais que pura amizade. É, é muito estranho e angustiante quando deixamos alguém entrar tão fácil na nossa vida e nos consumir, não sei se é pura fragilidade minha, mas eu consigo, e te deixei, te entreguei a fragilidade do meu momento e você esteve comigo… E assim pedi que permanecesse. Porém, quem sou eu perto do que é a imensidão do destino, sim, apesar de cético em alguns pontos, algumas coisas como isso que vão a caminhos contrários à vontade e a tudo que tentei manter me levam a crer que de nada servimos a não ser para ser marionetes do destino. Mas é isso, e é apenas isso… A corrida é sempre árdua, e o primeiro obstáculo derrubou ambos, mas na hora de levantar, ninguém estendeu a mão a ninguém.
E ao que parece em primazia, assim ficará… Mesmo que nenhum orgulho do mundo compre o respeito e a admiração que cultivei e levo de ti. E que se lembre de que posso ter errado, mas que tentei, e que te quis bem, como ainda irei querer em segredo.  E para quem acredita que o tempo é que rege verdadeiros sentimentos afetuosos, eu tive a prova que é engano, porém de nada adiantou. E assim vai… Como um vento, que ao acelerar causa dor como um furacão.

Sincero e Ternuroso,

Mário CoppinI”

Esperança, a oitava virtude?

Sempre escrevo da Ordem DeMolay de maneira mais que romântica, ultraromântica eu diria. Prefiro em momento reduzir este lado, pra expor um pensamento que me ocorreu. Conversava eu com mais um dos meus bons irmãos quando falávamos das sete virtudes, em que ambos chegamos ao consenso de que são completas. Porém como uma maneira de provocar, me foi questionado o seguinte: “Se você tivesse que acrescentar a oitava virtude, qual seria?”.

Bem.. minha conclusão foi que, apesar do perfeccionismo das virtudes, devemos ter uma coisa sempre em mente (apesar de termos tacitamente) que acho que poderia ser sagrada ao nível de virtude, e falo em nada mais nada menos que a esperança. Sim, acho que as virtudes nos mostram o caminho, mas nenhum caminho é percorrido sem a esperança de chegar a um final (mesmo que ele seja inexistente ou abstrato como um ideal), seria a esperança que daria a liga e legitimaria todas as virtudes.

A mim, foi respondido por este irmão “A persistência” porém, logo entendi que não adianta persistir no que não se espera… Antes de persistir, você espera, e isso lhe da às forças necessárias. Vemos em muitos casos situações difíceis, tangendo a impossibilidade, porém que com esperança se reverte e se vence, se supera, ou se aceita (o que já parecia improvável). Porém, a esperança, a persistência e até mesmo a fé andam de mãos dadas, pois a primeira engendra as demais. Cada um de nós sendo um DeMolay “trazemos em nossos corações uma chama (…) se pudermos penetrar nas profundezes mais recônditas de nossas almas e acender a chama que ali está (…)  ora, de que seria essa chama de não a esperança? Identificada em nossas virtudes, em nossos baluartes, se não a esperança de construir um caráter solidificado, de se desenvolver, de evoluir quando tudo que vemos lá fora está praticamente perdido? Pois bem, como termina a citação “ai reside objetivo da Ordem DeMolay”.

Concluo dizendo que mesmo aparentemente fundamentado, este pensamento é inútil. Não há necessidade. O que mais hoje em dia moveria tantos jovens sob apenas um ideal, alguns baluartes, alguns pensamentos se não a esperança? Ora pois, então a mesma nada mais é que uma geratriz para as sete virtudes.. uma origem, o princípio, esperança.. de que o amor, o respeito, a cortesia, a amizade, fidelidade, e alguns outros ideais se proliferem em mentes jovens e que ainda tem ilimitadamente possibilidade de se desenvolver, e levar estes postos com ela. Com isso, me contento a dizer que as sete virtudes permanecem perfeitas, e que de nenhuma vez que ajoelhei no altar simbólico o fiz em vão. E espero de todos os irmãos, que mantenhamos esta esperança, pois “Enquanto nós permanecermos fiéis a essas promessas, enquanto existir uma Ordem DeMolay, nós estaremos unidos.”

Mário Coppini”

Kairós

Passava das quatro horas, mais de duas horas do horário que haviam marcado. Era uma tarde típica de filme, a chuva caia com força, como um lamento de todos os anjos, as trovoadas compunham uma sinfonia grave no ambiente, o céu era mais cinzento que a fumaça dos ônibus que Ela via passar na rodoviária que se encontrava. E lá estava Ela, entediada, tamanho descontentamento já nem procurava mais olhar os ônibus que passavam um a um, mesmo sabendo que quem aguardava chegaria em um deles. Quem a olhasse claramente notaria a intenção de um encontro, estava bonita em sua roupa de moda, maquiada no melhor de seu estilo e produzida em mínimos detalhes; De longe sentia-se seu perfume doce.

Permanecia sem esperança, mas firme,quando, de dentro de um ônibus que nem notara desce um menino estranho e franzino, fora de qualquer padrão de beleza. Ele usava um blusão desses longos e largos, que se utiliza para ficar em casa receando ser visto por alguém enquanto estiver vestido daquela maneira. Esta peça, tapava-lhe quase o corpo todo devido a sua baixa estatura. Ele avista à menina fácilmente, radiante de tante beleza; Em sua mente voltam os antigos pensamentos de ser digno ou não dela. Timidamente Ele se aproxima dela e a cutuca:

– Oi. Disse Ele.

– Você está louco?  Isto são horas? Responde Ela, esbravejando

– Desculpe… eu não queria….

–  Onde é que você estava?! Ela interrompe

– Muita chuva… Responde Ele tentando mudar de assunto.

– Você sabe muito bem que em nada interferiria a chuva neste caminho do ônibus, apesar de ser longe.

– Tem razão… Diz ele, sem jeito por ter dado uma desculpa.

– E outra, eu estou toda arrumada, fiquei horas me arrumando, você põe só um blusão e acha que está certo?! Você não tem vergonha? Ela esbraveja.

Ele procura palavras para responder, mas Ela continua:

– Claro que não tem né! Onde já se viu? Você tem algo a dizer?

Entristecido e timido Ele abre o zíper do blusão, por baixo vê-se uma roupa social muito elegante, claramente nunca antes usada. Suas vestes estão totalmente ensopadas e empapadas, como se ele tivesse acabado de naufragar. Desajeitado, Ele tira do bolso interno uma flor com pétalas debilitadas pela água excessiva, olha para a garota a sua frente e em umm gesto reverente  estende as duas mãos oferecendo a flor.

Em seguida diz:
–  Sim, me desculpe amor, resolvi parar para te comprar uma flor…

E em um tímido “Kairós” para Sofista nenhum reclamar, o mundo desaba para Ela.

Mário Coppini”