Lembro-me daquele dia em que pude te receber em casa. E que em meio a risadas e falsas lamentações (pois por dentro o coração palpitava de alegria em mútuo reconhecimento e compreensão). Lembro-me daquele dia que pude te fitar com olhos esperançosos. Lembro-me da minha promessa silenciosa de não te decepcionar. Aquele abraço apertado e aquele tapa nas costas. Aquele “até” tão monossilábico e tão polissilábico em sua essência. Eu vou como um menino e volto como um homem. As guerras que lutarei todas levarão junto teu estandarte. Devo partir.
Hoje, em meu quarto, acendo uma vela branca. Símbolo da pureza. Nas chamas dela e ajoelhado, como costumávamos fazer lado a lado, repito a mim minha promessa, me convencendo de minha estrada. Eu vivi. Eu fui eu. Eu fui você. Eu vivi muitas outras vidas. Mas esta chama, a paz me traz. A paz de uma chama que tremula e acalentadora que ao meu redor faz a escuridão dessa vez me fitar. Fita-me não com olhos esperançosos, mas com olhos severos a garantir que nunca vou esvaecer em minha caminhada. Por mim e por você.
Sinto falta de seus conselhos. De sua mão tão pesarosa em meus ombros e de tua palavra que, às vezes severa, mas cheia de fé. A fé que nem eu, devoto de mim mesmo, um dia pude conseguir. São tantas lembranças que às vezes me permito não recordar, muito menos falar. São tantos deveres que às vezes prefiro não me cobrar, mas correr. Correr atrás de toda aquela promessa mútua e silenciosa que uma troca de olhares amigos jogou ao vento.
A chama se apaga. Devo levantar. Sobre o joelho direito, meu único apoio levanto. Com o meu, o teu estandarte em riste para que ao sair da escuridão, possa eu lutar as guerras silenciosas, assim como a promessa que um dia sem palavras te entoei.
A vós dedico.